segunda-feira, 2 de julho de 2012

Helena Freitas (Diário de Coimbra, 2 de Julho de 2012)


"Hoje escrevo sobre Coimbra. Escolhendo este tema, corro o risco de suscitar alguma interpretação arrevesada, que me fará a gentileza de analisar a minha escrita à lupa de uma agenda política obscura. Paciência. O importante é afirmar a liberdade de participar sempre e quando entender pertinente, o que ainda é mais relevante quando se trata da cidade onde vivo.... A oportunidade para a reflexão pode e deve ser suscitada pelos cidadãos, manifestando-se publicamente, propondo e debatendo ideias e soluções. E Coimbra bem precisa do contributo de todos.
Um dos problemas mais graves de que enferma tipicamente a nossa administração, seja ela de influência nacional ou local, é a incapacidade para planear e programar as decisões em horizontes racionalmente desenhados, contrariando a lógica dos estratagemas de calendário. Assisto com particular entusiasmo a algumas actividades estruturantes que têm vindo a ser promovidas em Coimbra, as quais denotam uma vivacidade latente, e revelam um despertar tímido da cidade. Entre muitas destas iniciativas extraordinárias, protagonizadas por cidadãos de forma independente ou organizada, destaco as que têm vindo a dinamizar a baixa da cidade, e que representam claramente uma mudança que deve ser apoiada. É tempo de afirmar Coimbra, cidade que vive há demasiados anos prisioneira no torpor das suas elites.
Nesta análise, necessariamente breve, é minha intenção reflectir precisamente sobre uma zona da cidade cuja requalificação contribuirá para fomentar novos projectos para a baixa de Coimbra. O ordenamento do Estádio Universitário e da sua envolvente, representará uma intervenção decisiva para a transformação da cidade. A requalificação deste espaço desportivo privilegiado, depende naturalmente da Universidade de Coimbra, mas não se fará sem a participação do município e sem uma análise global dos cenários urbanos envolventes, exigindo a sua valorização e a conformidade de algumas funcionalidades. Admitindo que a Faculdade de Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra encontra nesta zona a sua localização definitiva (eventualmente em sintonia com a Escola Silva Gaio), coloca-se a tónica de qualidade que torna inadiável a melhoria das instalações desportivas e a abertura plena deste espaço à cidade. Uma circunstância destas, obrigará à expansão da área afecta ao desporto e ao lazer até ao rio, e a consequente limitação da circulação rodoviária que fragmenta estas unidades, mas também à incorporação de outras soluções urbanas que me atrevo a propor. Não seria possível transferir os SMTUC, pelo menos em parte, instalando-se neste local um parque de estacionamento, com sistema tarifário favorável para residentes, comerciantes e utentes da baixa da cidade? Nesta proposta, justificar-se-á a construção de pelo menos uma ponte pedonal, preferencialmente coberta, favorecendo a fácil circulação de pessoas entre as duas margens. A desactivação definitiva da Estação Nova poderia libertar este espaço para elemento de ligação à ponte pedonal.
Na minha idealização urbana, a baixa de Coimbra devia contar com a criação de um parque de bicicletas gerido pela CMC, que ficariam disponíveis para circular na baixa, à semelhança do que se faz em muitas cidades europeias. Estas bicicletas, poderiam circular entre quaisquer áreas definidas para o efeito na baixa da cidade, podendo ser parqueadas em locais específicos, facilitando-se uma circulação preferencialmente pedonal ou em ciclovia. Estas bicicletas de Coimbra – as “Brikes” ou as “Brinhas” - não se adequam a toda a cidade, mas podiam ser muito úteis em toda a baixa e nas margens urbanas do rio.
Sei bem que a reforma da baixa da cidade não se resume a um problema de transportes ou de estacionamento. A reabilitação da habitação e do espaço urbano fará o seu caminho, que se deseja rápido apesar de muito condicionado pelo esforço financeiro que implica, mas fazem ainda falta lojas com perfil muito especializado e de qualidade, intercaladas com as lojas mais tradicionais, com elementos agregadores como podem ser, cada vez mais, as residências universitárias. É preciso encontrar formas concretas de apoiar o comércio da Baixa e de restaurar em definitivo a confiança dos pequenos comerciantes que aí resistem. Neste sentido, entendo que vale a pena apoiar a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, proporcionar os meios para que, numa lógica programática e plurianual, continue o notável trabalho que vem fazendo e que está a contribuir para devolver a Baixa à cidade."


Helena Freitas (Diário de Coimbra, 2 de Julho de 2012)

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