quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O meu "Bairro"

Nasci em Coimbra, na Baixinha da cidade como lhe gosto de chamar. Ainda é a zona do comércio tradicional de Coimbra, onde casas e estabelecimentos comerciais compartilham o mesmo espaço e em alguns sítios com carros, crianças, ciclistas e muitos outros tipos que cruzam a vida das cidades.
Uma das coisas mais gostosas deste pedaço da Cidade é o resgate da boa e velha vizinhança. Aqui, as pessoas conhecem os vizinhos e os comerciantes, cumprimentam, param para conversar, pedem para espreitar a casa. Crianças jogam bola na rua (agora em menos numero). No comércio, somos conhecidos pelos nossos hábitos, mesmo que não se recordem do nosso nome.
Todos os sábados, faço compras de frutas e legumes na mercearia lá da rua. Deparo sempre com as mesmas pessoas, trocamos saudação, como em qualquer aldeia das redondezas.
Comecei também a valorizar o comércio do “bairro”. Guarneço sempre nos mesmos sítios, onde já sou conhecido e tratado com carinho.
Morar na Baixinha é bom. Especialmente se aprendemos a construir relacionamentos de boa vizinhança. O meu vizinho do cimo da rua é uma espécie de segurança da rua, sempre na conversa com as pessoas que por ali passam, ele sabe sempre as novidades todas.
Sinto-me seguro por saber que, se eu precisar de ajuda, basta dar um grito. Na casa ao lado mora uma senhora viúva, que tem uns melros que cantam pelo amanhecer. Nas casas mais próximas moram trabalhadoras, amigas, que oferecem no mínimo um sorriso.
Como deve ser aborrecido morar num prédio e mal conhecer os vizinhos do lado. Mal cumprimentar as pessoas quando nos cruzamos com elas ou mesmo limitarmo-nos com o frio atendimento de um funcionário de uma caixa do hiper-supermercado.
O relacionamento é tudo. Por meio da convivência com pessoas nós desenvolvemos a linguagem, aprendemos a pensar, amamos, odiamos, “lutamos” e nos conciliamos. Relacionarmo-nos é uma qualidade especial, que muitos de nós abrimos mão de cultivar, em nome da segurança e paciência.
Falo aqui das coisas boas do meu “bairro”, mas tenho certeza que por essas imensas Urbes temos muitas histórias parecidas com a minha.
Quem me dera, que ainda hoje fosse assim, os hábitos de bairrismo e boa vizinhança vão desaparecendo de forma acentuada. Vivemos numa selva de betão, vivemos cada vez mais egoístas e isolados.
“Bairro” – Rua das Azeiteiras e seus limítrofes.


1 comentário:

LUIS FERNANDES disse...

Bonito texto, Jorge. Gostei.
Abraço.